O Distrito de Sussui está localizado a 12 quilômetros de Palmital e a 24 quilômetros de Candido Mota, municípios aos quais o pequeno povoado esteve vinculado, politico e administrativamente, em dois períodos diferentes.
A ocupação humana e econômica do Distrito de Sussui teve inicio no final do século XIX. Colonos de várias nacionalidades europeias ocuparam as margens do Rio Pari-Veado e deram início a um pequeno povoado, que recebeu o nome de Sussui, de origem indígena, cujo significado é rios dos veados.
Entre os fatores atrativos, a riqueza da floresta tropical que cobria os municípios de Palmital e Candido Mota foi o que despertou o interesse dos madeireiros, os quais fizeram do extrativismo vegetal a primeira atividade econômica. As árvores de grande porte e valor comercial sucumbiram aos golpes de machados e dos movimentos sincronizados dos trançadores. Espécies como peroba, guarita, angico, cedro, ipê e outras espécies típicas do bioma da Mata Atlântica eram derrubadas e destinadas à construção de moradias, produção de carroças e outros artefatos de madeira.
A chegada das ferrovias, na década de 10, abriu caminho para o desenvolvimento do arraial, para a integração do espaço, para o escoamento de madeira e, posteriormente, para o transporte de cereais e derivados de mandioca pelos vagões da Estrada de Ferro Sorocabana.
Um dos empresários que se destacou nesse período foi Antonio Silva (Tonico Silva, ex-prefeito de Assis), proprietário de uma pedreira e negociador de glebas de mata virgem para extração de madeiras nobres, que eram despachadas de trem pelos trilhos da ferrovia. As madeiras de menor valor de mercado eram cortadas e serviam de lenha para as locomotivas a vapor.
A ferrovia tornou-se referência para os moradores do povoado e dos sítios vizinhos, que se utilizavam do trem para chegar até a cidade de Palmital. Nos anos 20, as paradas das locomotivas a vapor em Sussui eram longas, pois as estações ferroviárias de Palmital e Cândido Mota não possuíam Caixa D´Água para abastecer os reservatórios das Maria Fumaça. Somente em Sussui as locomotivas podiam ser abastecidas.
Havia muito trabalho na Estação Ferroviária. Vários profissionais moraram anexos à estação e desempenharam funções relacionadas ao gerenciamento e à comunicação entre as estações da Sorocabana. Labiano Laranjera foi um dos primeiros Chefes da Estação de Sussui. No mesmo período, Paulo Fernandes trabalhou como telegrafista. De 1969 a 1976, Jairo de Oliveira foi o chefe e Cavassini o telegrafista.
Em 1929 teve início a construção da Usina Hidrelétrica do Rio Pary-Veado, localizada a menos de oito quilômetros do Distrito de Sussui. A obra foi conduzida por José Georgi, sendo concluída em 1937. Simultaneamente ao progresso e ao conforto da eletricidade gerada pela usina, a formação da represa sem que houvesse a limpeza do terreno e a retirada da cobertura vegetal provocou proliferação do mosquito Anopheles, conhecido no Brasil como mosquito-prego. Centenas de pessoas foram infectadas pelo mosquito, em Sussui e nas imediações da barragem, gerando uma epidemia de malária, também conhecida como maleita e paludismo.
O número de mortos e contaminados pela malária não é conhecido, mas a sombra da morte pairou sobre muitas famílias que tiverem seus infectados pelo vírus. Muitas vítimas da doença agonizavam em seus leitos com febre altíssima, náuseas, vômitos e dores insuportáveis pelo corpo.
O farmacêutico Aristóbulo Menezes Lopes, oriundo da Bahia, proprietário de uma farmácia em Sussui, veio para Palmital na companhia do médico Geraldo Coelho, foi uma das vítimas da malária, mas sobreviveu e tomou a frente no tratamento das pessoas infectadas, socorrendo os enfermos que residiam nas áreas infectadas. Além de atuar como farmacêutico em Sussui e Palmital, Aristóbulo também ocupou uma cadeira no Legislativo palmitalense e, por seus préstimos, foi homenageado postumamente com o nome de uma rua: Rua Vereador Lopes.
A princípio, Sussui era um Distrito pertencente ao município de Cândido Mota, mas, em 30 de novembro de 1938, o Governador Adhemar de Barros assina o Decreto Estadual nº 9775, que transfere o Distrito para o município de Palmital. Uma das justificativas para a transferência foi a posição geográfica do Distrito em relação ao Rio Pary-Veado.
O desenvolvimento da agricultura nas imediações do Pary-Veado transformou a paisagem natural. A chegada das famílias de colonos, a fertilidade da terra roxa e as condições favoráveis para negociar os produtos agrícolas favoreceram o cultivo de arroz, trigo, mamona e mandioca. A mandioca tornou-se a principal matéria-prima que impulsionou o surgimento de fábricas de amido, raspa e farinha de mandioca. O primeiro empresário a instalar uma fábrica de Farinha de Mandioca nas imediações do Distrito foi Ângelo Breve. Posteriormente, Ângelo Nobre, Frand Fradsen, Zelão Fadel e Vitório Fadel também foram proprietários de Fábricas de Mandioca, transformando o produto em derivados voltados ao mercado regional.
Antônio Donizete Fadel nasceu em Sussui, em 1955, neto de Vitório Fadel e filho de Giacomo Fadel, relata que, nos anos 60, havia quatro fábricas de farinha no Distrito. Nos anos 80, assumiu a direção da Santa Maria, empresa que chegou a empregar mais de 70 funcionários. Embora continue atuando no mesmo segmento, a fábrica que era de sua propriedade foi à última a fechar as portas e a encerrar a tradição mandioqueira no Distrito.
O comércio também contou com grande diversidade de estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços. Um dos pioneiros do setor comercial foi o italiano Primo Sigolo, oriundo de Rovigo. Chegou ao Brasil após lutar na 1º Guerra Mundial (19714-1919), casou-se com Maria Boniolo Sigolo, tiveram dez filhos, todos nascidos em Sussui. O prédio comercial onde funcionava o estabelecimento da família foi construído na década de 30. A estrutura de alvenaria com mais de oitenta anos de história ainda está presente no Distrito, embora seu estado de conservação seja precário.
Josephina Sígolo Fortuna nasceu em 1935 e se casou 1959, em Sussui. Pina, como é mais conhecida, trabalhou durante alguns anos no Serviço Postal que funcionava anexo ao Armazém da Família Sigolo. O Correio era o meio de comunicação mais eficaz entre os moradores do Distrito com localidades distantes, pois o primeiro e único telefone, que foi instalado no estabelecimento da Família Sigolo, somente chegou ao bairro no final dos anos 50.
No Distrito, existiam três vendas (Armazém de Secos & Molhados): Pedro Kirnew, José Rosa e Marcelo Albertine. O Sapateiro era Nagib Zina; A Loja de Tecido era de propriedade do norte americano Mister Kiss; o Cartorário chamava-se Frederico Abranches de Campos; o Açougueiro era Juca Prado; Fauzi também era proprietário de uma loja de tecidos; Romancine era o Padeiro; Jorge Chedid tinha um estabelecimento comercial em Palmital e outro Sussui.
Contam os moradores mais antigos que comerciante com microfone em punho acirravam a disputa comercial com os concorrentes. Além de Aristóbulo Menezes Lopes, outros farmacêuticos trabalharam no Distrito: Fiuza, Dante Grisolia e Eugênio Rogério.
Também foi instalado no Distrito um entreposto do IAA (Instituto do Açúcar e Álcool).
Pessoas ouvidas pela pesquisa citaram as mulheres que atuavam como Parteiras no Distrito de Sussui e que trouxeram inúmeras crianças ao mundo. Frand Frandsen fala sobre uma romena chamada Dona Rosária, que teria vindo para o Brasil em decorrência da Revolução Russa (1917-1922). Maria de Lourdes Martins Prado cita Dona Inocência e Dona Lazinha Galvão Rocha, parente da dupla sertaneja Irmãs Galvão.
A política municipal fez de Sussui um local de disputas acirradíssimas e de movimentos estratégicos que definiam eleições municipais. O colégio eleitoral de Sussui sempre despertou o interesse dos políticos, que não poupavam esforços para conseguir o maior número de votos possível dos eleitores locais. Há diversos registros fotográficos que retratam eventos de inauguração de obras, comícios e outros momentos políticos. Para comprovar o peso do eleitorado local, o Distrito era o único local fora da área urbana de Palmital que possui uma sessão eleitoral.
Frand Frandsen, mas conhecido como Cristiano Frandsem, nasceu em 1929, em Lençóis Paulistas, e mudou-se para Sussui em 1939, onde se casou com Cinira Baldo Frandsen e teve 6 filhos. Além de proprietário de uma fábrica de farinha, esteve sempre envolvido com a política local. Em duas oportunidades, foi eleito vereador, ao lado de Manoel Leão Rego, que exerceu três mandatos como Prefeito em Palmital.
Pedro Kirnew Heras releva um episódio ocorrido durante a campanha eleitoral na disputa entre Manoel Leão Rego e Dr. Fuad Hadad. Dois comícios foram marcados no mesmo dia e na mesma hora. Leão faria o comício em Palmital e Dr. Fuad em Sussui. O grupo político de Manoel Leão mandou ônibus para Sussui, a fim de buscar os eleitores para o comício em Palmital. Entre os articuladores da estratégia, havia um homem armado com um revólver. Pedro Kirnew comunicou a polícia por telefone e, na estrada, prenderam o sujeito que portava a arma de fogo.
A campanha política de 1972 também colocou Sussui como protagonista ao garantir o terceiro mandato de Manoel Leão Rego contra Fuad Haddad. Todas as urnas de Palmital haviam sido abertas e a soma dos votos dava Fuad Hadad como vencedor. Quando foi aberta a urna de Sussui, Manoel Leão superou o adversário com uma diferença de apenas 16 votos.
A influência católica é uma das marcas registradas de Sussui. No principio de sua formação, havia duas capelas que se localizavam uma de frente para a outra: uma contava com São Sebastião como padroeiro; a outro tinha como padroeiro São Roque. Os católicos entraram em consenso e decidiram construir uma única capela, mais ampla e moderna, mas mantiveram os dois padroeiros no altar. A capela grande foi inaugurada em 25 de abril de 1954, em uma missa com a presença de Dom Lázaro Neve, Bispo da Diocese de Assis.
Não muito distante da praça da Igreja, deparamo-nos com as ruinas do cemitério de Sussui. Entre os jazigos e placas de identificação danificadas pelo tempo, o espaço é uma ilha em meio às lavouras práticas ao redor. No passado, antes que o cemitério caísse no esquecimento, algumas famílias transferiram os restos mortais de seus entes queridos para outros locais. Mas, para outros ali enterrados, restou apenas o esquecimento.
Maria de Lourdes Martins Prado nasceu em Sussui e, atualmente, vive em Palmital com sua filha que nasceu no mesmo local. Casada com Juca Prado, açougueiro do Distrito, foi mãe de dez filhos, dos quais cinco morreram e foram sepultados no cemitério do Distrito.
O lazer e o esporte também faziam parte da vida comunitária do local. Havia uma prainha localizada às margens do Rio Pary-Veado que atraía muitas pessoas de cidades diferentes, fazendo do local um ponto de encontro para a juventude e um espaço de reunião familiar. Ás águas do Pari também favoreciam a pesca, atraindo muitos pescadores em busca de comida para o jantar.
O futebol também fazia parte das tardes de domingo. Jogadores da comunidade pelejavam com adversários das águas vizinhas de Palmital e Cândido Mota, com equipes que empunham respeito aos adversários. Uma escalação tradicional dos anos 60: Ilso Rosa, Universindo, Zezito, Orlando Rotiroti, Léo, Laércio, Chilo, Orlando Kirnew, Luiz Roncon, Lula e Pedrinho Alves.
As crianças que moravam em Sussui e nos sítios vizinhos eram alfabetizadas em uma escola de madeira construída nos anos 30. Anália Marsola Paludetto morava na Água da Fartura e caminhava cerca de 4 quilômetros para assistir às aulas no Distrito de Sussui ministrada pela Professora Dona Sinhá, esposa do farmacêutico Eugênio Rogério.
Posteriormente, uma nova escola foi construída, com estrutura em alvenaria e com quadra poliesportiva. Foram muitas as professoras que trabalharam no processo de alfabetização das crianças do local: Dona Nenê Nobre, Dona Palmira, Dona Olinda Nobre.
Silene Fadel é filha de Jairo de Oliveira, Chefe da Estação de 1969 até 1976. No período que morou em Sussui, cursou o antigo Magistério. Diariamente, percorria 12 quilômetros de trem, de Sussui a Palmital. Após concluir o curso, trabalhou como Professora substituta na Escola em Sussui, na companhia de professores que deixaram seus nomes imortalizados na vida de muitos alunos: Maria Eulália Scalla (Lalita), Neusa Cruz Moreira da Silva, Antonio Carlos (professor e diretor); além das professoras Sueli Acúrcio e Celia Modanez. Valter Fadel, marido de Silene, nasceu e viveu muitos anos em Sussui, estudou na escola local e foi aluno das professoras: Cleonice (sobrenome), Lígia (sobrenome), Ivone Sigolo e Norma Buchaim. Silene conta ainda que, no povoado, havia grande fluxo de pessoas e alguns fatos que eram peculiares à vida dos moradores nos anos 70. Era comum os moradores do bairro irem à estação ferroviária no horário em que os trens de passageiros paravam na estação para o embargue e desembargue de passageiros, a fim de ver os trens e os viajantes. Havia também sessões de cinema no Distrito e a preferência dos moradores eram os filmes do Mazzaropi.